setembro 13, 2016

Fragmentos de Vidas #17

Daniela Filipa, 20 anos, amiga, irreverente, simpática, divertida, espontânea, leal, perfecionista, apaixonada, sonhadora, ...
Uma entrevista repleta de segredos, amores, dor, família, mortes e muito mais que não podem deixar de ler ...

Como te estás a sentir agora, antes de responderes às perguntas?
Sei lá, estou envergonhada, nervosa, com medo das perguntas a seguir, mas bem, estou bem, com uma vista fantástica.

O que te distingue dos outros?
Sou única! Sou uma pessoa única, sou oito ou oitenta, não tenho meio termo na minha vida, meio termo para mim são só os homens. Sou diferente de toda a gente! Sou única, como a minha mãe costuma dizer “se não nascesse tinha de ser inventada”, eu sou aquela pessoa que tu nunca vais estar à espera do que é que eu vou fazer ou o que estou a pensar porque nem eu às vezes espero aquilo que digo ou faço.

O que é que uma mulher deve ser?
(Pensativa). Deve ser perfecionista com ela própria. Ter amor próprio, ser orgulhosa, é algo que hoje em dia as mulheres não são, preferem dar-se do que os homens venham atrás, as mulheres hoje em dia são oferecidas. És perfecionista? Sou, sou muito!

Gostarias de alguém como tu?
Não! Porquê? Não me suportava, (risos) era impossível, não dava.

Preferes a fama ou o proveito?
Eu já tive muita fama, não foi a melhor, quando andava na minha primeira escola … (Pausa). Eu era uma miúda que tinha o corpo muito desenvolvido e sempre tive muita fama porque proveito nunca tive nenhum. Mas se calhar agora tenho mais proveito que fama. Na altura foi complicado lidares com a fama? Foi … (Nervosa). Foi muito complicado, eu era uma miúda que na escola ria e achava muita piada ao que as outras pessoas diziam, mas quando chegava a casa e pensava no que essas pessoas me tinham dito fechava-me no quarto a chorar, ainda hoje me custa às vezes. Eu tenho pessoas que ainda se dão comigo dessa altura e há poucos dias isso aconteceu, um amigo disse-me uma coisa na brincadeira e eu levei a mal, vim-me embora a chorar e ele veio atrás de mim para me acalmar e dizer que estava a brincar, à mínima coisa eu caio logo, fiquei calejada com a infância, é instantâneo.


Preocupas-te com o que pensam de ti?
Já me preocupei mais, aí naquela fase dos dezasseis aos dezoito, preocupa-se muito com a imagem, com o que vão dizer de nós, se estamos giras, vou-me gabar, agora já não me preocupo com isso, tenho é de agradar a mim própria, já aprendi que nem todos os troianos podem gostar de mim, não se pode agradar a gregos e troianos. Há uns tempos importava-me muito com a minha imagem, agora sou eu e gosto de mim assim, não me importa se os outros gostam ou não.

Fizeste sempre tudo o que tinhas na cabeça?
Sim, fiz sempre tudo o que me veio à cabeça, nunca deixei nada por fazer.

O que nunca contaste sobre ti?
(Riso nervoso). Muita coisa, eu sou uma caixinha de surpresas e ao mesmo tempo um cofre fechado a mil e uma chaves, eu demonstro ser uma pessoa muito extrovertida, brincalhona e que conta a vida a toda a gente, mas nem tudo aquilo que se diz é tudo aquilo que se passa e eu sou uma pessoa que não dou a entender, não gosto de dar a entender aos outros a pessoa que sou, sou muito reservada, tenho segredos para dar e para vender. (Ri novamente). 

Quem está mais perto de ter as mil e uma chaves? 
(Silêncio). Tenho duas pessoas, a minha mãe, conto-lhe tudo, é raro o que não conto, só se for algum engate que tenha feito (riso), e ao meu melhor amigo, o Pedro, ele sabe tudo, não preciso de chorar que ele já sabe que eu estou mal por dentro, eu não preciso de falar para ele saber o que eu estou a sentir, é uma pessoa que está muito perto.

Fizeste alguma coisa que fosse contra os teus valores?
(Pensativa). Se calhar já, provavelmente. Há certas coisas que devia pensar duas vezes e não penso, lá está o problema de fazer tudo o que me vem à cabeça. Às vezes devia pensar e dizer “não vou”. Geralmente não dou segundas ou terceiras oportunidades e quando o faço vou contra os meus valores. Logo já fui contra os meus valores várias vezes.


Qual é o teu ponto fraco?
A minha mãe e o meu afilhado. E o teu ponto forte? O meu feitio, sem dúvida alguma. (Risos)

Tens medo do passado?
Tenho! Porquê? (Silêncio). O meu passado é uma coisa que me faz cair no obscuro, cair num buraco negro e depois tem de haver alguém com muita força para me tirar de lá. A tua mãe e o teu amigo? Sim, sem dúvida. São as duas pessoas que já me tiraram de grandes buracos fundos.

Do que depende a tua felicidade?
De mim, se eu não fizer a minha felicidade ninguém o vai fazer por mim. Por mais que a minha mãe, o Pedro ou o meu pai me possa tentar ver feliz, nunca ninguém vai conseguir como eu própria me posso meter.

Mentes em que circunstâncias?
Mentir … Eu não minto, eu omito! Qual a diferença? Mentir é dizer algo que seja totalmente o contrário ou errado, omitir é contar a versão de outra forma, por exemplo, viro-me para a minha mãe e digo que vou dormir a casa de uma amiga, eu não menti, eu omiti, eu fui dormir a casa de uma amiga, mas primeiro fui sair e depois é que fui dormir, logo não menti, eu omiti certos pormenores do que ia fazer nessa noite. Eu não minto, odeio mentiras. E omites muito? Eu não omito muito, só tento deixar a minha mãe menos preocupada. (Riso).

Do que é que te arrependes?
Arrepender eu não me arrependo de nada porque acho que cada erro que nós cometemos na nossa vida é uma aprendizagem para o futuro, eu penso que errei em algo e da próxima não faço. Já erraste muito? Já, eu acho que em vinte anos devo ter errado para aí uns dez, cada dia que passa tento não errar, mas erro sempre em alguma coisa, nem que seja a passar um vermelho, erro todos os dias.


Que parte do corpo masculino te chama mais a atenção?
Os dentes, é verdade! (Risos). Eu sou tipo aquela rapariga mais estranha do mundo, normalmente as mulheres olham para o rabo ou para o corpo, eu sou oito ou oitenta, num homem sou meio termo, não gosto de muito musculado, nem muito gordo nem muito fino, gosto do meio termo, que tenha “chicha” para agarrar, um lindo sorriso e que tenha covinhas e rugas de expressão, é algo que me satisfaz nos homens. Temos um que trabalha connosco que tem um sorriso lindo e umas rugas de expressão, eu benzo-me cada vez que vejo aquele homem … (Riso)

Pensas muito em sexo?
(Silêncio). Não, não de todo! Eu acho que pensam mais em sexo quando olham para mim do que quando eu olho para outras pessoas, não sou ninfomaníaca, o sexo é algo que faz parte do ser vivo, mas eu não sou dependente, posso estar uma data de tempo sem o fazer que não fico preocupada com isso. Se tiver que fazer faço, mas tem de ser com uma pessoa que sinta aquilo que estou a fazer e não algo por desporto, que já o ouvi dizer, ou falta de sexo, eu nunca tive falta de sexo, é algo estúpido, é algo que se tem de fazer com sentimento, com vontade, algo mútuo. O sexo é como comer, essencial para a nossa vida, mas eu tenho de comer para viver e sexo não o preciso de fazer para sobreviver.

Dizem que a primeira vez tem de ser especial … Como foi a tua? 
(Entusiasmada). Foi especial, muito especial, a minha primeira vez foi muito especial. Foi no dia do jogo de Portugal contra a China, ganhámos sete - zero, o rapaz estava comigo, ia ter teste de história nesse dia, foi muito fixe. (Riso). Ao sétimo golo ele conseguiu tirar-me a t-shirt e pronto aconteceu, foi muito especial, não vai ser esquecido, nunca, foi uma cena fantástica, vai ser sempre lembrada porque eu e ele perdemos a virgindade juntos e é uma coisa que acho que nenhum vai esquecer porque foi muito giro. Foi o calor do momento ou era mesmo alguém especial? Era alguém especial, tanto eu como ele fomos especiais um para o outro, ele é uma pessoa igual a mim, a única diferença que temos é mesmo o sexo, somos iguais, os problemas que eu tenho, mesmo a nível de corpo, eu nasci com estrabismo, ele também nasceu, eu não digo o “L”, ele também não, nós somos iguais em termos de feitio, de personalidade, em termos de defeitos, que são feitios, somos iguais e gostávamos muito um do outro e vamos sempre gostar muito um do outro, em termos de carinho, porque não foi de todo o meu primeiro amor, não de todo que eu vá dizer “vou amar o resto da minha vida”, nem com aquela idade eu sabia amar, tinha quinze anos, mas foi uma pessoa especial, eu fui uma pessoa especial para ele, ainda hoje nos falamos e ainda hoje, se fosse por ele, estávamos juntos mas eu não aturo uma pessoa igual a mim, é muito complicado. Logo, com ele é impossível amares? Impossível eu não digo, talvez se lidássemos normalmente um com o outro e se passássemos dias e dias juntos, se calhar podia criar alguma espécie de paixoneta, mas de todo que não penso ter um relacionamento com ele, ele pensa, eu não. Mas é de sorriso bonito e covinhas no rosto? É de sorriso bonito e de covinhas mesmo vincadas, sem dúvida. (Pensativa)

O que fica das paixões?
Dor … (Silêncio). Fica muita dor. Há muitas paixões, ao longo da vida temos paixões, nem que seja aquela só do olhar e acharmos aquela pessoa magnifica, mas em todas as paixões fica um pouco de dor ou felicidade, podíamos ter dito aquilo ou ter feito algo, fica mágoa, fica dor. Tens muita dor dentro de ti? Tenho, tenho muita mesmo.

Já traíste? 
Não, por mais que digam que sim, nunca traí. E já foste traída? Já, já fui bem traída.


Como foi a tua primeira saída à noite?
Foi louca! (Riso). Foi numa discoteca, nos anos de uma melhor amiga, foi a minha melhor amiga durante muito tempo e agora continuamos muito amigas só que temos vidas diferentes, é normal que já não haja aquela amizade tão forte, bebi dois shots e fiquei logo alegre, eu não sou daquelas pessoas que bebe diariamente, mas claro que se for para uma festa mais animada, ainda há uma semana apanhei uma, minha nossa senhora, como não sou de beber normalmente quem leva o carro sou eu. Mas nessa primeira saída, estava muito contente e vim-me embora à meia noite.

Há alguma coisa de que tenhas desistido?
Desisti … (Pausa). Desisti de um amor! Porquê? (Silêncio). Porque … Porque já não aguentava, era muita discussão, muita confusão e desisti, eu não sou de desistir, eu tatuei no meu corpo “Parar é morrer, lutar é sobreviver”, depois disso porque foi a única vez que desisti e nunca mais vou desistir de algo que queira ou esteja a fazer, hoje sei que errei, que vou levar para o resto da minha vida, desistir não é de mim.

Estás zangada com alguém?
Neste momento estou zangada com muita gente, mas estão mais zangados comigo do que eu com eles. Porquê? Eu não sou de beber, mas há uma semana fui a uma festa bebi demais, não estava em coma, não vomitei, não caí, mas estava muito alcoolizada, nessa noite todos os problemas que tinha com as pessoas resolvi-os, quando estou alcoolizada resolvo tudo, eu tinha lá uma pessoa que tinha problemas com ele de há dez anos atrás e fui resolver. Eu normalmente é que aturo a bebedeira dos outros, as pessoas gostam que a gente ature as bebedeiras deles, mas se aturam uma bebedeira nossa já é o carmo e a trindade caídos no chão, portanto eu agora faço com que eles pensem, mas não estou chateada, isso estou mais comigo própria do que com os outros, eu às vezes erro mais do que eles comigo, mas erro em fazer as vontades aos outros. Neste momento só estou mesmo chateada com dois rapazes, foi algo pela maior estupidez, tentei não arranjar confusão, eles estavam com pessoas que não gostam de mim, para evitar discussões não lhes falei, no dia a seguir fui-lhes falar e acho que eles levaram um bocado a mal, a partir daí começaram bocas nas redes sociais e eu considerava-os meus amigos. (Exaltada) Não conseguiram ver a parte de eu tentar evitar algo. Porque resolves os assuntos mal resolvidos enquanto estás bêbeda e não sóbria? Porque tento evitar, não vale perder uma amizade por uma discussão que não vale a pena, quando estamos sóbrios começamos a falar com essa pessoa e isso vai criar uma discussão porque a outra pessoa pode não chegar ao mesmo consenso que nós e vamos dizer coisas que não queremos, quando estamos alcoolizados vamos dizer as coisas e a outra pessoa não vai ter tempo para responder porque dizemos tudo de seguida. Por mais que pareça uma pessoa muito doida eu odeio discussões, a pessoa com quem mais discuto é a minha mãe.

A quem te apetecia dizer umas verdades?
A quem … (Riso). A tanta gente, se eu pudesse fazia aquelas máquinas de parar o tempo, parava aquela pessoa e dizia-lhe tudo o que tinha a dizer, depois ligava, o tempo voltava ao normal e a pessoa ficava com aquilo na cabeça. Adorava ter esse dom porque aí fazia com que as pessoas pensassem no que lhe dizia e ao mesmo tempo não tinha de criar discussões, as pessoas têm de ver que todos temos telhados de vidro e não mandar tiros para o ar porque podemos partir os nossos vidros e estilhaçarem-se por cima de nós. Tens muitos telhados de vidro? Não, não tenho porque tenho noção daquilo que faço e por mais que erre naquilo que faço, eu tenho noção, eu não estou a ver uma pessoa a cometer um erro e vou dizer que nunca o irei fazer porque nunca se diz nunca, apesar desta frase dizer nunca ao inicio.

Quando teria sido mais fácil desistires de ser quem és?
(Silêncio). Há .... Olha dia treze vai fazer seis meses, há seis meses podia ter desistido de ser quem sou. O que aconteceu? Tive a morte do meu avô, de uma pessoa que … (Emocionada). De uma pessoa que me era muito importante, era o pai da minha mãe, eu já perdi um e agora perdi o outro, sabes? Eu sempre fui mais ligada aos meus avôs do que às minhas avós, sempre fui muito maria-rapaz, o meu avô que faleceu há sete anos, esse foi quem me ensinou a fumar, com nove anos, não é o melhor exemplo, mas ele sempre disse que era a herança que ia deixar aos netos, serem fumadores, hoje eu e o meu primo somos fumadores, quando o perdi custou muito porque ele morava numa quinta, tinha cabritas e ovelhas, ia com ele para o mato, era brutal, quando ele faleceu, os meus avós maternos vieram morar para o pé de nós porque a minha avó ficou com Alzheimer e Parkinson, ficou muito doente, aí voltei-me a agarrar ao meu avô materno, a perda que tive há seis meses custou-me muito, ainda hoje me custa, não entro em casa deles e é ao lado da minha, eu tenho de passar por aquela casa todos os dias, eu é que tratava da minha avó agora temos umas senhoras, eu com catorze anos tive de aprender a mudar uma fralda a uma mulher feita, a alimentá-la, a mudar uma cama com ela lá deitada, porque ficou acamada mas sempre tive o meu avô a dar-me forças. No dia doze, de manhã, a minha mãe foi acordar-me, sou muito complicada para me levantar de manhã, o meu avô estava doente, ficou de um dia para o outro, a minha mãe ia dar um comprimido ao meu avô e disse-me que quando voltasse me queria ver em pé, a minha mãe saiu de casa, ouvi a do meu avô bater e levantei-me, fui a correr, não sei porquê, quando cheguei à porta vi a minha mãe a sair de casa deles a chorar e ela só me disse que tinha de ter força, caí no chão a chorar. (Pausa prolongada). Fui ter com ele, precisava de ter a certeza de que estava morto, estava deitado na cama, normal, eu tentei reanimá-lo, lá está fui parva e não pensei duas vezes, era só tocar-lhe e sentir a temperatura dele, estava gelado, (emocionada) mas eu tentei reanimá-lo, eu meti a minha boca na boca do meu avô morto para o tentar reanimar, só sai dali quando tive certezas de que ele não respirava e foi muito complicado. Na noite anterior, fui fumar um cigarro e depois vê-lo, ele estava a respirar normal, olhei para o céu e tinha uma estrela tão brilhante, olhei para ela e falei com ela como se fosse o meu outro avô e disse-lhe “ele vai ter contigo, isto são as melhoras da morte”, cada vez eu acredito mais nisto, ele teve uma noite descansada, ele morreu depois de se despedir de nós todos. Quando me disseram as horas da morte eu tinha acabado de responder a uma mensagem e ido deitar-me, ele despediu-se de mim e morreu. Ficou alguma coisa por dizer? Muita, muita, fiz tudo o que ele queria, não deixei que fossem flores em cima dele, levou um galo ao seu lado, um cigarro entre as mãos, porque sempre que passava lá ele pedia-me um cigarro, mas eu não podia dar e levou o meu cachecol do Benfica autografado pelo Luisão, que é o jogador que ele mais gostava, ao peito. Faltou dizer-lhe muita coisa, mas eu sei que fiz aquilo que ele queria, mesmo faltando coisas por dizer sei que ele me vai perdoar. (Silêncio).


Sempre foste amada como precisavas de ser?
Mais ou menos, já fui muito amada, sou muito amada, mas por vezes não consigo retribuir a atenção que me dão porque não consigo ter noção daquilo que sentem por mim e se não me disserem e eu não conseguir é escusado, não vou sentir.

Achas que é mais difícil, ser mãe ou pai?
(Pensativa). Acho que não há ser mais difícil, há muita mãe que é mãe e pai e há muito pai que é pai e mãe, portanto acho que é difícil ser os dois. Na minha infância o meu pai não estava cá devido a ir trabalhar para fora, só o via aos fins-de-semana e aí ele matava-se e esfolava-se para provar que era meu pai, mimava-me com tudo, ainda sou muito mimada, eu queria uma pastilha a minha mãe dizia não, o meu pai dizia sim. Logo é muito complicado ser os dois. Talvez seja mais complicado na mãe por ser ela a ter a criança, mas se formos a ver os pais também já têm a gravidez psicológica, é quase igual, agora até os homens com operações podem ser pais.

São os filhos que ensinam os pais a sê-los?
Eu acho que sim porque um pai nunca o sabe ser se não tiver um filho. A minha mãe diz que nunca pensou passar comigo o que já passou. Com treze, catorze anos fiz coisas que nenhum filho faz, se algum filho meu me fizer isso não sei.

O que fica de quem vai?
(Silêncio) Saudade, muita saudade. Eu morro de saudade de muita gente. Eu já perdi amigos, familiares, e quando digo perder não é aquelas pessoas que perco com chatices, essas continuam cá, posso ter saudades de momentos, mas não das pessoas porque elas continuam vivas e a divertirem-se, eu tenho saudades das pessoas que morrem.

Qual foi o pior dia da tua vida?
O pior? Se calhar o pior dia da minha vida … (Pensativa). É complicado porque já tive vários dias maus na minha vida, mas se calhar o dia em que me senti pior foi quando perdi um ovário, tinha nove anos, lembro-me desse dia como fosse hoje, não tive noção do que era perder um ovário, tive medo de não poder ser mãe, tive de ter apoio psicológico para realmente perceber que podia ser mãe, foi um dia muito mau. E o melhor? Está para vir … Até agora o melhor dia da minha vida foi o dia em que a minha comadre me ligou e me perguntou se aceitava ser madrinha do filho dela, brevemente terei outro bom dia que é ter o diploma do décimo segundo na minha mão, vai ser uma chapada de luva branca para muita gente que não dava nem um cêntimo por mim. Mas até agora o meu afilhado é o amor da minha vida. (Orgulhosa mostra uma fotografia no telemóvel).


Como gostarias de morrer?
A dormir porque era uma morte santa ou então em velocidade, algo brusco, o impacto.

Se a tua vida fosse um livro que título teria?
Oito ou Oitenta.

Ser livre é ter tudo o que queremos?
Não, é ter tudo o que podemos. És livre? Sou!

Como te estás a sentir agora no fim da entrevista?
O meu coração está despedaçado, estou um bocadinho remoída, umas lágrimas a cair para dentro, falei de coisas um pouco chocantes, falei dos meus segredos, da minha mãe, do meu avô, falei de coisas que não falo diariamente com alguém, estou bem, mas despedaçada, tipo Maria Madalena.

O que quer o teu coração?
(Pensativa) O meu coração quer estar sossegado, ser feliz e ter as melhores pessoas dentro dele. (Respira fundo).


Tenho de agradecer novamente à Daniela por ter aceite responder às minhas perguntas tão pessoais. Obrigado.

Termina assim a entrevista deste mês cheia de fragmentos desta vida. O que acharam?

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