maio 30, 2016

03. Dependência

Capítulo anterior, aqui.
03. Dependência

Virei-me para ela e sorri, a sua expressão estava carregada, percebi que não tinha gostado de me ver ali à conversa com o Patrick, devia ter calculado melhor a situação.
- Está tudo bem aqui? - Perguntou seriamente.
- Tudo perfeito! - Disse calmamente. - Certo? - Inquiri virando-me para o Patrick, que abanou a cabeça em concordância.
Depois pediu-me para ir com ela até ao jardim da empresa, este era grande e tinha ao centro uma fonte, em redor existiam várias mesas e bancos que serviam para almoçar ou conviver, algumas árvores e flores também compunham o local.
- Eu não acredito que vieste aqui pedir explicações ao homem! - Repreendeu-me zangada.
- Não é nada disso! - Tentei desviar a situação mas a expressão dela fez-me confessar. - Porra, desculpa mas eu não aguentei. Sabes como é que aquele bilhete me deixou? - Perguntei nervoso.
A sua expressão fechada deixava-me sem saber como reagir, de repente começou-se a rir e abraçou-me dizendo que gostava de me ver assim com ciúmes, que ficava atraente, agarrei-lhe o queixo e beijei-a.
- Aiden, olha onde estamos ... - Beijei-a novamente e depois larguei-a.
- Mas fica descansada que não disse nada de mal ao homem, compreendi que ele é mesmo assim. - Disse fazendo-a acreditar.
Despedi-me e ela voltou ao trabalho, combinámos que a viria buscar mais tarde.
Recebi uma mensagem do Danny, um colega bailarino a convidar-me para ir com ele a uma audição para um bailado e quem sabe participar, aceitei o convite, recebi de seguida outra mensagem com as horas e o local de encontro, ainda faltava algum tempo, aproveitei e fui ter com o meu irmão.
Quando cheguei a casa dos nossos pais, reparei num homem que nunca tinha visto a sair, o seu aspeto era estranho, o modo de vestir não inspirava confiança. Entrei, fui até à sala e fiquei em choque com o que estava a acontecer à minha frente, o Isaac estava a inalar um pó branco em cima da mesa, rodeado por várias garrafas vazias de whisky, vinho e cerveja.
- Que merda é que estás a fazer? Larga já isso! - Ordenei completamente alterado.
Assustou-se e deixou cair o produto, tentou apanhá-lo mas eu agarrei-o com força e puxei-o para o sofá, não dizia uma única palavra. Perguntei-lhe desde quando é que ele consumia e após alguma insistência acabou por revelar que era a terceira vez, não acreditei e dei-lhe um murro.
- Irresponsável! - Gritei. - Queres tornar-te num agarrado? Porque é que estás a destruir a tua vida? Tu tens objetivos! - Enquanto me ouvia massajava a cara que tinha ficado marcada, olhei-o nos olhos e vi que começara a chorar. - Estás a chorar porquê? - Inquiri irritado.
- Eu estou sozinho! - Confessou enquanto chorava. - Não tenho ninguém. - A situação era mais grave do que pensava.
Sentei-me ao seu lado e abracei-o, disse-lhe que ele me tinha a mim e que se não tivesse acabado com a Arya também a tinha a ela. Quis saber porque é que ele estava a reagir assim e revelou-me que os nossos tios tinham lá estado para conversarem mas este recusara. Um ódio começava a surgir dentro de mim por aqueles dois seres.
- Agora vens comigo a um especialista que te vai ajudar com estes problemas que tens! - Disse tentando ajudá-lo.
- Problemas tens tu! Não fui eu que fingi que estava paraplégico quando já andava. Não te perdoo, vai-te embora. - Tinha-se imposto, conseguia ver a revolta dentro de si.
Neguei e agarrei-o por um braço para o levar para o carro, empurrou-me e fui cair desamparado junto da mesa de jantar, depois sem olhar para mim, saiu. Levantei-me e fui atrás dele gritando o seu nome, vi-o ao longe a esbarrar com um homem idoso, aquele não era o irmão que eu conhecia.
Recebi uma mensagem do Danny a perguntar se aceitava tomar um café com ele antes da audição, apesar de não estar com cabeça decidi aceitar, fora por ele que eu tinha tomado conhecimento.
Quando cheguei ao café, cumprimentei-o, tinha sempre um estilo muito extravagante, apesar de tudo era boa pessoa, nunca tive nada contra ele, não éramos amigos só colegas de profissão e da escola de ballet.
Falámos sobre dança e as últimas competições a que este tinha ido, depois contei-lhe também que estava parado desde o acidente e ele disse que aquela seria uma excelente forma de ressurgir, dei-lhe razão.
Estava na hora das audições, entrámos no recinto e observámos algumas pessoas, cada um inscreveu-se e depois aguardámos. Ele foi primeiro, depois chegou a minha vez, apresentei-me perante os jurados.
Depois de ter ido buscar a Mirna ao trabalho e chegarmos a casa fui tomar um banho para relaxar, estava com esperança sobre o casting, saí do duche com a toalha presa à cintura, enquanto me vestia ouvi o telemóvel a tocar, quando olhei para ver quem era não conheci o número, atendi. Fiquei a ouvir, era do hospital, o meu pai adotivo estava em coma alcoólico, agradeci pela informação e desliguei a chamada, pensei se devia fazer alguma coisa mas depois de tudo o que sofri em criança ele merecia muito pior, acabei de me vestir e fui ter com a Mirna à cozinha, estava a fazer o jantar, sentei-me num banco a olhar, estava realmente apaixonado. Aproveitei e contei-lhe as novidades sobre a audição, ela ficou empolgada, pedi-lhe calma pois nada estava decidido, depois mudei de assunto.
- Como está a tua irmã? - Quis saber curioso.
- Não falei com ela, só com a minha mãe mas acho que continua com enjoos e vómitos. - Respondeu visivelmente preocupada.
- Eu tive a pensar numa coisa, não sei, achas que é possível ela estar grávida? - Pela sua expressão rapidamente percebi que ainda não tinha ponderado aquela hipótese. - É que ela tem os sintomas!
- Será? Acho que se fosse isso ela me contava mas agora fiquei na dúvida. - Confessou enquanto terminava de cozinhar.
Fomos para a mesa e enquanto apreciava o seu Strogonoff de frango ela decidiu contar-me as novidades.
- A partir de amanhã já não tens de te preocupar com o Patrick! - Disse-me piscando o olho.
- Já não estou preocupado com ele! - Menti. - Mas explica lá porquê. - Pedi querendo saber a desculpa que ele arranjara.
- Vai ser o CFO, diretor financeiro, da nova sucursal da empresa na Suíça, como é solteiro pode recomeçar a vida lá. - Revelou-me.
- Isso é muito bom para ele! Quando vai? - Questionei interessado com a data.
Após me revelar que aquele tinha sido o último dia dele ali fiquei satisfeito por ter cumprido o ultimato.
Estávamos a acabar de jantar quando tocaram à campainha, não esperávamos ninguém, levantei-me e encaminhei-me para a porta, ao abri-la não acreditei no que os meus olhos viam, o Isaac estava ali com a roupa rasgada e vários hematomas, o seu rosto estava com vários cortes, o sangue pingava, quando me viu desmaiou e caiu sobre mim, amparei-lhe a queda e pedi ajuda.

Próximo Capítulo, aqui.

Palpites do que aconteceu ao Isaac?

2 comentários:

  1. Acho que se meteu com quem não devia... :s quando publicas o próximo episódio?? :D

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    1. Podes ter a certeza! Vou tentar publicar até domingo. =D

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